segunda-feira, 30 de abril de 2012

É difícil separar Religião e política



   "Não escolhemos partidos nem candidatos. Mas ajudamos a comunidade a discernir sobre cada um. E possa escolher aqueles sintonizados com nossas convicções - de justiça social, atendimento da necessidades da população carente, justiça econômica, promoção do desenvolvimento, respeito à dignidade da pessoa e moralidade pública". Dom Odilo Scherer / OESP de 30.04.2012
   As palavras do cardeal Sherer também refletem os meus pensamntos tanto é que escrevi um tópico sobre o assunto no livro O Sociocapitalismo por um Mundo Melhor, que abaixo reproduzo:


Desde que o homem passou a viver em cidades e passou a utilizar dinheiro, surgiu o dilema entre o progresso material e o progresso espiritual. Na verdade, as necessidades da carne e do espírito não são necessariamente excludentes, quando pautadas nos valores éticos, morais e religiosos equilibrados. Pois qual a religião importante no mundo que prega a miséria? Qual delas é contra o progresso e a prosperidade, desde que seus frutos sejam alcançados dentro da ética e convenientemente repartidos?
   De certo que a prosperidade deve fundamentar-se na justiça, no compromisso moral religioso e na dignidade humana. Ela deve servir a todos indistintamente, se quiser ser digna deste nome. De modo que o verdadeiro progresso humano só ocorre de fato, quando há uma composição adequada entre o progresso material e o progresso espiritual. Daí a máxima antiga “espírito são em corpo são”. E esse lema é válido para a sociedade como um todo.
   As religiões são importantes na medida em que cuidam da saúde espiritual e material da sociedade e do indivíduo em si. Além de servirem de ponte entre estes dois progressos humanos.
   No Egito antigo durante o governo do faraó Aquenaton, ocorreu um fato histórico importante envolvendo religião e economia. Tudo aconteceu quando o faraó resolveu instalar o primeiro monoteísmo religioso que se tem notícia; ignorando tradição do povo egípcio e os seus deuses milenares.
   Naquela época, os sacerdotes possuíam um poder formidável sobre o povo. Os templos eram riquíssimos e acumulavam tesouros e conhecimentos. Eram verdadeiras “universidades” da antiguidade, onde promoviam a instrução, a educação e o conhecimento; embora para alguns poucos felizardos que formavam a elite religiosa do país.
   Pode parecer estranho, mas os templos também funcionavam como fontes poderosas de arrecadação de dinheiro para as classes religiosas. Aquenaton foi contra essa corrente religiosa, e instalou uma religião de um único Deus; que obviamente afetou bastante os interesses econômicos dos sacerdotes; que a partir daí se tornaram seus inimigos mortais.
   Após a morte de Aquenaton, o antigo regime religioso de muitos deuses e muitos privilégios para a classe religiosa foi restaurado. Então os faraós que o sucederam tentaram bani-lo da história, retirando o seu nome dos monumentos públicos. Mas foi em vão, pois aquele  faraó “adorador do sol” sobreviveu à perseguição pública da época e hoje é lembrado como o instaurador da primeira religião monoteísta da humanidade.
   O faraó Aquenaton ilustra exemplo de como é improdutivo, senão impossível, mexer com as tradições e com a religiosidade do povo. Coisa que os comunistas tentaram séculos depois na URSS e também não deu certo; baseando-se no filósofo materialista Karl Marx, que mencionara com relativa propriedade em seu livro “A miséria da Filosofia”:
“Materialismo histórico significa ao mesmo tempo, que as relações materiais constituem a base de todas as relações que os homens mantêm em sociedade e que essas relações enquanto reais e materiais são necessariamente transitórias.”
   O materialismo histórico de que Marx falava procurava desqualificar o poder religioso da Igreja e a fé que o povo tem em Deus e em outros entes religiosos; que constituem a base cultural de qualquer povo.
   O “materialismo” radical marxista foi um erro considerável que contribuiu para o naufrágio do socialismo. Mesmo assim, Marx foi brilhante para diagnosticar a doença do capitalismo selvagem que se instalava na sociedade partir da revolução industrial Inglesa. No entanto ele errou redondamente quanto ao prognóstico para debelar essa doença.
   A partir da dialética marxista o mundo assistiu a uma perseguição brutal a igrejas e padres por parte dos comunistas. E quantos não morreram em razão desta despropositada “guerra materialista”? Pior é que essa perseguição ocorre até hoje; pelo governo Chinês.
   A mesma China progressista que implantou o “socialismo de mercado” e que fez a abertura para o capital estrangeiro, ainda é demasiadamente conservadora com relação à abertura religiosa. Lógica civilizada alguma explicaria a perseguição cruel que os monges tibetanos sofrem das autoridades chinesas. A não ser o forte apoio popular que eles possuem, e por isso são considerados “perigosos”. Pois o Tibet é uma “rica província mineral” que a China conquistou ilegalmente com a força das armas; e eles “poderiam” incentivar revoltas contra tal ocupação.
   Com a queda do império ateu soviético a Rússia fez também a sua abertura religiosa.  E o fez sabiamente, pois a religião é a base da moral e da tradição de um povo. Como pode um povo caminhar confiante para um futuro, sem que uma luz espiritual o guie? Um povo privado se sua fé religiosa é um povo infeliz e certamente está escravizado por uma elite materialista, cuja visão cultural e histórica não vai além de um palmo do próprio nariz.
   Daí decorre que a alienação religiosa imposta pelos materialistas do governo chinês não é impensada. Eles se arrogam donos da riqueza proporcionada pelo trabalho do povo e não querem dividi-la com ninguém; principalmente com os religiosos tibetanos; que os comunistas acusam de “exploradores do povo”.
   Em que pese o fato das religiões cobrarem dízimos de seus fiéis, elas são importantes para o progresso material e espiritual do povo. O ex-primeiro ministro da Inglaterra Tony Blair; entendeu bem a importância da fé e da religião, tanto que escreveu um ótimo artigo publicado no “Global Viewpoint” e no jornal o “O Estado de São Paulo” no dia 21 de dezembro de 2008, intitulado “O papel da fé no êxito da globalização”.
   Pessoalmente não gostei do apoio incondicional que Blair deu ao presidente George W. Bush no início da guerra do Iraque; endossando assim a mentira de Bush que afirmava categoricamente:  “que o Iraque possui armas de destruição em massa e por isso é um grande perigo para a humanidade”. Pois bem, em nome desta grande mentira os EUA partiram para a guerra juntamente com a Inglaterra, contrariando a opinião pública mundial e a própria ONU.
   Apesar de tudo, o artigo de Blair é adequado para dar um norte religioso a Nova ONU, no sentido de resolver globalmente os problemas estratégicos da humanidade. Veja alguns pontos importantes do artigo de Blair:
“As pressões da globalização levam pessoas a se unir desconhecendo as fronteiras, pelo comércio, viagens, telecomunicações e migração em massa. Quando em um mundo tão interdependente a fé religiosa tem o poder de afastar pessoas ela se torna uma força de ruptura e de conflito. Isso é péssimo para todos. Mas tal consequência será particularmente negativa para os que possuem fé religiosa. Significando que a fé não é sinônimo de reconciliação, compaixão e justiça, mas de ódio e sectarismo.”
   Blair vai mais longe ainda e mostra a interdependência religião-economia ao afirmar:
“Se não descobrirmos um modo de conciliar fé e globalização. O mundo não só será um lugar perigoso, como a própria globalização terá muito menos possibilidades de sucesso na disseminação da prosperidade.”
   O artigo de Blair cita outros pontos importantes sobre religião e fé, que acho importante descrevê-los. São eles:
1 - “A fé religiosa é muito importante. Gostemos ou não, bilhões de pessoas são motivados por elas.”
2 - “Para funcionar com eficiência, a globalização precisa de valores como confiança, fé, abertura e justiça.”
3 - “A fé e seus valores são muito importantes. Sua integração definirá o modo crucial as perspectivas de sucesso, prioridade, e de coexistência pacífica da sociedade global que vivemos.”
   O texto de Blair é bastante elucidativo; um verdadeiro norte pelo qual a Nova ONU e o próprio sociocapitalismo deverão se orientar, com vistas a um Mundo Melhor.




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